Uma disputa que durou 4 anos entre os residentes da zona rural do condado de Hood e uma empresa vizinha de mineração de Bitcoin destacou os custos sociais do crescimento do setor de criptomoedas no Texas. Os proprietários de casas se voltaram contra um dos maiores mineradores de ativos digitais do estado.
No centro do conflito está uma grande fazenda de mineração de Bitcoin gerida pela MARA Holdings perto de Granbury, em uma parte não incorporada do condado de Hood.
A mineração de Bitcoin se torna uma tortura mental contínua
Os vizinhos reclamam de um zumbido constante de baixa frequência devido aos sistemas de resfriamento da estrutura, que transformaram a vida cotidiana em uma experiência que descrevem como um sofrimento contínuo. A MARA (ex-Marathon Digital) afirma operar em conformidade com a lei, trazer investimentos e empregos e já ter adotado medidas para reduzir o ruído. A fazenda de mineração entrou em operação em 2022 ao lado de uma usina de gás natural perto de Granbury. Os residentes relataram imediatamente o ruído incessante todos os dias e a todas as horas, comparando-o a “estar em uma pista de pouso” ou “na borda das Cataratas do Niágara”. As reclamações aumentaram durante 2023, com a expansão da instalação.
“Este é um som que me atinge todos os dias quando saio pela porta dos fundos,” contou um residente em um recente serviço da Al Jazeera. Outros descreveram noites sem sono, dores de cabeça e estresse. “A comunidade está doente,” declarou outro residente. “Isso não é apenas barulho, é um bombardeio físico. É uma tortura.”
O boom das criptomoedas no Texas encontra limites locais
O Texas se tornou o maior hub de mineração de Bitcoin nos Estados Unidos, abrigando em 2023 quase 30% da potência de computação nacional, atraído por terrenos de baixo custo, impostos reduzidos e um mercado de energia desregulamentado. No entanto, esse crescimento se deparou com uma realidade legal fundamental. Os condados do Texas geralmente não podem aprovar ordens anti-ruído eficazes. Apenas as cidades podem fazê-lo.
Os funcionários do condado de Hood tentaram recorrer, em 2024, às leis estaduais sobre “ruído irracional”, emitindo multas por ultrapassagem de certos níveis de decibéis.
No entanto, a tentativa ficou estagnada no tribunal, revelando o quão limitadas são essas normas em comparação com as regulamentações municipais típicas contra o ruído.
Ações judiciais e estudos confiáveis
Os residentes se organizaram e apresentaram uma ação por perturbação privada em um tribunal estadual, alegando que o ruído e as vibrações da instalação de mineração prejudicam significativamente o uso de suas residências.
A causa ainda está em andamento, entre disputas sobre o acesso a dados operacionais e medições.
Além disso, o condado de Hood contratou um estudo acústico independente no final de 2024. O relatório encontrou níveis sonoros elevados perto da instalação e destacou que o limite legal previsto pela legislação penal é muito mais permissivo em comparação com os padrões municipais aplicados em outros lugares.
O estudo também destacou limitações no acesso e na coordenação, que impediram uma avaliação completa da situação em todas as condições operacionais.
A MARA afirma ter investido muito para reduzir o impacto na comunidade. A empresa construiu uma grande barreira acústica, substituiu alguns ventiladores por modelos mais silenciosos e iniciou a conversão de algumas áreas do local para sistemas de resfriamento por imersão líquida.
Em uma declaração citada pela Al Jazeera, a MARA afirmou ter investido mais de 320 milhões de dólares localmente, apoiado dezenas de empregos, gerado receitas fiscais e desejado “continuar comprometida em ser uma boa vizinha.”
Para os residentes, no entanto, essas intervenções não foram suficientes.
“Esta deveria ser a nossa casa para sempre,” disse uma proprietária. “Não posso vender minha propriedade. Agora pago mais impostos do que realmente vale a casa.”
Uma tentativa fracassada de se tornar cidade
Em 2025, os residentes tentaram uma estratégia desesperada: queriam constituir sua própria comunidade como cidade para poderem emitir regulamentos locais contra o ruído.
A iniciativa atraiu atenção nacional e os contenciosos legais da MARA, mas um juiz permitiu que a questão fosse levada a voto. No final, no entanto, os eleitores rejeitaram a proposta de incorporação, encerrando a tentativa de obter poderes municipais.
“Esse era o plano,” contou uma organizadora à Al Jazeera. “Mas simplesmente desmoronou porque perdemos aquela batalha.”
Com a incorporação fora de cena, os residentes declaram que continuarão a lutar no tribunal.

