Introdução ao DeFi (Finanças Descentralizadas)

2020-09-01

Vamos entender melhor a base para que fosse possível surgir os aplicativos de finanças descentralizadas (DeFi).

O ecossistema dos criptoativos surgiu e cresceu com a promessa da descentralização, o Bitcoin é a primeira rede de liquidação de pagamentos distribuída baseada em consenso, resistente à censura, sem permissão e ponto-a-ponto com uma moeda nativa comprovadamente escassa. O Bitcoin (BTC), o ativo nativo do blockchain Bitcoin, é a primeira moeda digital do mundo sem um banco central ou administrador central, e na esteira do bitcoin surgiram várias outras criptomoedas, para citar algumas: Ripple (XRP), Bitcoin Cash (BCH), Litecoin (LTC), Bitcoin SV (BSV), Monero (XMR), Stellar (XLM) e Dash (DASH). A dominância do Bitcoin no valor de mercado do ecossistema de criptoativos ainda é muito grande, neste momento ela detém sozinha 59,26% do valor de todo o ecossistema, e juntas as criptomoedas concentram 67,39% deste valor, totalizando mais de US$243 bilhões de dólares, segundo o site messari.io .

Valor de mercado das criptomoedas em 25 de agosto de 2020

Em um segundo momento surgiram as plataformas de infraestrutura baseadas em blockchain para criação de contratos inteligentes e aplicativos descentralizados. Ethereum é o seu maior expoente, seu token nativo é o ether (ETH), que serve principalmente como meio de pagamento para taxas de transação. Também na esteira do Ethereum cresceram outras plataformas onde vale destacar: Cardano (ADA), EOS (EOS), Tezos (XTZ), TRON (TRX) e NEO (NEO). Neste momento o Ethereum detém sozinho 12,15% do valor de todo o ecossistema de critpoativos, e juntas as plataformas de contratos inteligentes concentram 17,61% deste valor, totalizando mais de US$63 bilhões de dólares, segundo messari.io .

Valor de mercado das plataformas de infraestrutura de contratos inteligentes em 25 de agosto de 2020

Junto com as plataformas de contrato inteligente surgiram também as stablecoins, ou moedas estáveis, que poderiam herdar as principais características do Bitcoin como: baixos custos de transação, transferibilidade e conversibilidade internacional sem fronteiras, pseudo-anonimato e transparência em tempo real. E ir além, resolvendo a questão de oscilações de preços, e ajudando o grande público a ter contato com a nova tecnologia trazendo para o ecossistema dos critpoativos, ativos amplamente aceitos e conhecidos pelo público em geral, como por exemplo o dólar. 

As moedas estáveis de maior destaque são: BUSD (BUSD), Tether (USDT), USD Coin (USDC), Dai (DAI), TrueUSD (TUSD), Paxos (PAX) e a Binance USD (BUSD). Todas elas procuram seguir o dólar americano, e juntas concentram 4,62% de todo valor de mercado dos criptoativos, totalizando mais de US$16 bilhões de dólares, segundo messari.io .

Valor de mercado das moedas estáveis em 25 de agosto de 2020

Todo esse amadurecimento do ecossistema criou condições para o surgimento do DeFi, uma abreviação de “Decentralized Finance” ou Finanças Descentralizadas em tradução do inglês. Podemos dizer que DeFi é um setor dentro do ecossistema de criptoativos que tem como objetivo entregar aplicativos financeiras ponto-a-ponto, descentralizados, resistentes à censura e independentes de um intermediário confiável. Até o momento os principais aplicativos DeFi foram implementados utilizando a infraestrutura provida pelo Ethereum, mas certamente com o amadurecimento do setor veremos o setor DeFi florecer em outras plataformas.

Para entender melhor o DeFi podemos organizá-lo nos seguintes blocos construtivos:

  • Stablecoins – criptomoedas estáveis utilizadas principalmente para dar liquidez para os aplicativos financeiros descentralizados. Ex: Tether (USDT), USD Coin (USDC), DAI (DAI) entre outras.

  • Mercado de Crédito – aplicativos onde os usuários podem conceder e tomar crédito sem a existência de um intermediário. Ex: Aave (LEND), MakerDAO (MKR), Compound (COMP) entre outras.

  • Corretoras descentralizadas – da sigla em inglês DEX, são aplicações onde os usuários podem comprar e vender criptoativos diretamente sem intermediação de uma corretora centralizada. Ex: Binance DEX, Curve Finance (CRV), Balancer (BAL) e Uniswap entre outras.

  • Oráculos – do inglês “Oracles”, são aplicativos responsáveis por prover conectividade para as demais aplicativos descentralizados. Através dos oráculos aplicativos implementados através contratos inteligentes podem se conectar com o mundo off-chain como corretoras, bancos, sistemas de pagamentos e também com outras redes Blockchain. Ex: Chainlink (LINK)

  • Ativos sintéticos – aplicativos descentralizados para a criação de ativos sintéticos que rastreiam o valor dos ativos do mundo real como moedas fiduciárias, commodities (por exemplo, ouro), critpoativos, ações, índices e outros derivativos. Ex: Shintetix (SNX), Wrapped Bitcoin (WBTC), RenVM (REN) entre outras.

  • Organizações Autônomas Descentralizadas – sigla em inglês DAO (decentralized autonomous organization) são aplicativos que são utilizados para implementar uma organização autogovernada, não influenciada por forças externas. O software opera por si só com regras imutáveis escritas na blockchain. Tem como objetivo prover um modelo de negócio descentralizado para organizar tanto empresas comerciais como sem fins lucrativos do setor DeFi. Ex: Aragon (ANT).

  • Agregadores – ecossistema descentralizado que agrega serviços de empréstimo dos aplicativos de Mercado de Crédito com o objetivo de otimizar os ganhos do participante. Ex: yearn.finance (YFI).

  • Seguros descentralizados – aplicativo descentralizado que permite aos membros agrupar e compartilhar riscos por meio de uma alternativa de seguro de propriedade da comunidade. Os membros têm direito a uma parte de qualquer capital detido além do que é necessário para pagar reivindicações potenciais. Ex: Nexus Mutual (NXM), aplicativo descentralizado que atende justamente aos riscos financeiros associados a “bugs” em contratos inteligentes em aplicativos DeFi.

Por que os aplicativos de finanças descentralizadas (DeFi) estão ganhando tanta popularidade?

Os aplicativos DeFi tem ganhado uma enorme popularidade por trazer uma forma diferente para os detentores de criptoativos fazerem os seus recursos aumentarem. Os principais mecanismos são:

  • Taxas de juros – os usuários “bloqueiam” os seus criptoativos no aplicativo escolhido, provendo a liquidez necessária para o seu funcionamento, e recebem em troca juros sobre os criptoativos “bloqueados”. Modelo muito utilizado no Mercado de Crédito implementado pelos aplicativos DeFi.

  • Tarifas de “market maker” – os usuários “bloqueiam” os seus criptoativos na corretora descentralizada escolhida, abreviadamente chamada de DEX, formando um “pool” de ativos necessário para o seu funcionamento, e recebem em troca uma parcela das tarifas cobradas nas transações realizadas, proporcional à sua participação neste “pool”.

  • Distribuição de “tokens” de governança – os principais aplicativos DeFi fazem também uma distribuição de tokens de governança para os participantes da rede baseados na quantidade de criptoativos que estes participantes “bloqueiam” para utilização da rede.

A quantidade de criptoativos “bloqueados” para utilização nos aplicativos DeFi é o principal indicador de sucesso deste setor. Hoje, segundo o site Defi Pulse, temos mais de US$7 bilhões de criptoativos “bloqueados” nos aplicativos DeFi, que comparados aos US$667 milhões “bloqueados” em janeiro deste ano, nos dão uma dimensão da velocidade com que este setor vem crescendo.

Valor total bloqueado em DeFi (Defi Pulse)

O Mercado de Crédito DeFi é responsável por mais da metade deste valor “bloqueado”, seguido pelas DEXs, corretoras descentralizadas, que detêm uma participação de aproximadamente 25%, e ainda podemos destacar os aplicativos de ativos sintéticos com uma participação significativa.

Principais aplicativos DeFi (Defi Pulse)

Conhecendo os riscos envolvidos

A princípio pode parecer que os riscos envolvidos são pequenos, e que os participantes que provêm liquidez aos aplicativos DeFi em troca de juros, taxas e tokens de governança tem muito a ganhar e quase nada a perder. Mas em uma análise mais cuidadosa as coisas não são bem assim. Os principais riscos incorridos são:

  • “Bugs” nos contratos inteligentes (smart contracts) – devemos lembrar que os aplicativos DeFi são softwares, e que portanto, estão sujeitos a erros de programação. Recentemente um problema deste tipo afetou o aplicativo descentralizado YAM e fez o seu valor de mercado despencar de US$60 milhões para praticamente zero em pouco mais de 30 minutos!

  • Crise de liquidez – imaginando que algo realmente inesperado aconteça e provoque uma enorme crise de liquidez no setor DeFi, isso pode afetar os Mercados de Crédito descentralizados trazendo problemas para seus participantes se os mesmos desejarem “desbloquear” seus criptos ativos.

  • Moedas estáveis – as moedas estáveis (stablecoins) compõem um pilar importantíssimo no setor DeFi, pois são intensamente utilizadas na colateralização dos empréstimos e na criação de liquidez para as corretoras descentralizadas (DEXs). Se algo grave acontece com um destes ativos pode ser catastrófico para o setor.

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